Chegamos ao fim

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 20: CHEGAMOS AO FIM

Chegamos no último passo do Manual da Separação. Na verdade, não é um passo que traz direcionamento. Ele vem para provar resultados através de relatos de mulheres que vivenciaram um divórcio e se reconstruíram, ou não.

Muitas, olhadas de fora, pareciam plenas delas mesmas, em novas composições familiares e novos rumos. Porem, quando as perguntas invadiam fatos passados, recuavam, desistiam, pediam para não falar. Foi aí que ficou claro a importância dos passos: àquelas que fizeram do divorcio uma oportunidade para crescer, que vivenciaram a dor como um caminho natural de cura, estavam realmente reconstruídas, em paz com elas mesmas e com a sua própria historia. Enquanto que outras, as vezes pela urgência da própria dor, criaram atalhos para uma nova vida, sem referendar o caminho. Elas simplesmente chegaram ali e não sabiam como. Acumulavam dores, raivas e aquele buraco que faz com que este assunto não seja bem-vindo. Tive que desistir de muitas entrevistas e mesmo assim, aprendi com todas elas. Mas, o mais importante: me mostraram que eu estava certa.

Para um bom divorcio é preciso ter paciência, comprometimento, estabelecer prioridades e fazer as pazes com a gente mesmo.

Convido vocês a observarem alguns relatos, aqui compartilhados para perceberem que é possível um melhor caminho. Separar bem é sim uma decisão da gente, independente do outro. O que não quer dizer que seja fácil, porquê não é.

“Nos últimos meses eu me auto abraçava na cama. Já tínhamos nos separado há muito tempo, e eu não queria ver.”

“Vivíamos de ilusão. Casamento morno e de fachada. Tinha espaço, sim, para ele buscar alguém. Acabou acontecendo. ”

“Numa noite, minha filha veio chorando e pedindo o papai de volta. Chorei com ela, querendo ele também. Mas no fundo eu sabia que, depois de quebrado, não tinha mais volta. ”

“Eu namorei, noivei, casei, tive filha. E nada me fazia feliz. Nada. Vivíamos o dia a dia. Um dia, falei que não era feliz e que não queria mais. Doeu muito. Mas foi o dia que mais gostei de mim. ”

“Quando ele saiu com o pai para um primeiro final de semana, bati a porta de casa e fui encostada nela, me abaixando lentamente, com uma dor absurda dentro de mim. Não me lembro quanto tempo fiquei ali. Só sei que chorei por horas até esvaziar tudo que tinha. Depois disso, a cada ida, doía menos. ”

“Ontem no almoço de domingo olhei para os meus meninos do primeiro casamento, dando pão para a minha bebê do segundo casamento. Meu marido contando piada, com as filhas dele me ajudando a servir e me senti a pessoa mais feliz do mundo. E olha que eu já estive no fundo do poço. ”

“Hoje, depois de tudo, toda a vez que encontro o pai dele, penso: porque eu não me separei antes? Estamos todos muito melhores e mais felizes. Gosto do pai dele, só não gosto para mim. ”

“Demorei anos para me recuperar de uma traição. Tive muita raiva e acabei dificultando. Tempos depois me dei conta que já tínhamos desistido de nós mesmos. Só que era cômodo manter. Foi sofrido. Mas, depois de alta na terapia, conheci o C. Entendi que o que tinha era nada. Casei cedo demais, tive filhos.

Fui cuidar de mim muito tempo depois. ”

“Hoje somos avós de quatro lindas meninas. Nos casamos de novo ao longo da vida. E quando dividimos momentos familiares, me sinto uma sábia e bem vivida senhora de 70 anos. Gosto de mim, sabe? ”

“Quando o avião pousou e vi que teríamos um final de semana só para nós, sem filhos, pensei: acho que deveria dar a mão para ele. Me dei conta que estava no automático. Transava só para não criar problema e ouvir reclamações. ”

“Foi um fim tão triste. Choramos quando contamos para eles. Crianças choravam também. Mas passa, viu? Nem lembrava mais disso. Tive apertos ao longo da separação e depois dela. Me senti sozinha e com medo. Mas a cada ganho pessoal, me sentia orgulhosa de mim mesma. Acho que é para isso que funciona. Para sabermos que podemos ir além. ”

“Sabe qual a melhor parte de mim? Meus filhos. Como poderia sustentar um ódio pelo pai deles? Impossível. Trouxe todos para perto de mim. As crianças vibram quando estamos todos harmonicamente juntos. Ah! Te contei que quando ele viaja com a atual esposa e meus filhos, sou eu que fico com o cachorrinho deles? E as crianças adoram contar isso. ”

“Sabe aquele medo de se decepcionar com a gente mesmo? Pois, então. Ou eu fazia alguma coisa naquele momento, ou eu envelheceria presa ali e infeliz. Foi a atitude mais certeira que tive. Não me arrependo. ”

“Até hoje, quando lembro de algo daquela época, me arrepio. Foi uma luta. Mas isso é vida, né? E ela pode ser bem menos complexa se for vivida de verdade. A minha é de verdade. Com altos e baixos. Deixa eu pensar um pouco…. Sim, eu sou mais feliz depois de tudo. ”

By: Núcleo da Separação

Novas famílias

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 19: NOVAS FAMÍLIAS

Hoje (depois de todos os passos) vivemos de forma mais autêntica. Em sintonia com a verdade de cada um. Crescemos neste processo todo e acabamos por nos conhecer mais. Nos reconstruímos de um jeito ou outro. Descobrimos que família se estabelece onde tem afeto e pode se dar nas suas mais variadas composições. Mãe e filhos. Pai e filhos. Mãe e mais alguém, com filhos dos dois. Duas mães, dois pais, pais sócio afetivos. E o que passa a ser mais valorizado: o amor de forma mais ampla.

Tudo, no fim das contas, é muito mais simples do que fantasiamos. E o elemento que faz a diferença é, novamente, a nossa Verdade. Não deu certo e separamos. Não éramos felizes e queremos ser mais. Erramos, acertamos. Reencontraremos o amor e ele virá para perto de nós, de um jeito ou outro.

Um dia a proposta “vamos misturar?” pode vir a ser uma das frases mais lindas que ouviremos ao longo da vida. E se olharmos para trás, lá longe, lá onde nos demos conta que um casamento chegava ao fim, lá onde se viam dores gigantescas e caminhos tortuosos, e repassarmos toda a trajetória até aqui nem acreditaremos quanto caminhamos e quanto estamos mais. Mais tudo.

Com total sentido.

Viu como pode dar certo?

Respira longamente. Fecha os olhos. Agradece.

Conseguimos.

                                                                                               By, Manual da separação

                   

Os meus, os teus, e deu?

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 18: OS MEUS, OS TEUS, E DEU?

O tempo de cada um é singular. E nem sempre o que significa reconstrução para uma, é o mesmo para outra.

Neste momento, temos a vantagem de que, pós-experiência de uma separação, estaremos mais inteiras de nós mesmas e com um conhecimento mais evidente do que somos, do que não somos, do que queremos ou não.

Para algumas mulheres, só se reconstrói quando se ama de novo, casa de novo e, algumas vezes, só tendo outros filhos para reconfigurar uma família. Para outras, somente através do autoabastecimento, daquele que se conquista no passar do tempo.  Ainda, há mulheres que acreditam em relações eventuais e direcionam o foco para si mesmas e para os filhos.

E o que seria “dar certo”?

Não há uma única forma. Certo é aquilo que convém a cada uma e que faz encerrar o dia, de forma mais tranquila. É ter paz na alma, caminhar segura com a certeza de que fazemos o nosso melhor, todos os dias.

Às vezes, podemos ser felizes apenas com os nossos. Às vezes, com os nossos e mais alguém. E ainda: os nossos e os dele. Os nossos, os dele e os em comum. A mistura é o que melhor representa o amor. Traz pedaços da gente que compõem com os do outro. É uma costura humana de riqueza sem tamanho, porque traduz vontade. Vontade que dê certo. Vontade de amar de novo e começar do nada. Só que de um nada mais recheado de tudo, de histórias e vivências que potencializam as chances de dar certo, do jeito que for.

Recompostas, o que faremos ou não desta liberdade é algo tão íntimo que dispensa qualquer tipo de julgamento.

Linda toda e qualquer forma de reconstrução. E bem vindas sejam todas elas e todas as formas de (“re”) amar.

                                                                                               By, Manual da separação

                   

Namorados que chegam

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 17: OS NAMORADOS QUE CHEGAM

Um acontecimento comum, já inserido nos momentos de melhora e reconstrução, é o surgimento de namorada/namorado dos pais. Ás vezes, na hora certa, quando as dores estão curadas e a família já esta reconstruída a ponto de ter um espaço tranquilo para esta chegada. Ás vezes, de forma precoce, ainda quando vivem um luto podendo desencadear dores, raiva e retrocesso nos acordos pactuados. O que sabemos é que isso vai acontecer e é normal que aconteça. É um marco divisório entre o que era passado e o que é presente.

Como em tudo, o bom senso é um ótimo sinalizador para análise da hora certa. Do quanto nossos filhos estão prontos e preparados, porque a perda numa separação é deles também.

Trabalhando com a ideia de idealizações, o indicado é que esta figura entre gradualmente na vida de todos. E também quando se tem alguma certeza de que ela representa algo sólido que justifique esta aproximação com os filhos. O processo de conquista é muito importante e nem sempre é fácil. Vai ter ciúme, vai ter a sensação de ameaça, de medinho de perder para aquele ser estranho até que as posições fiquem determinadas.

Assim como a entrada gradual, a certeza de que a namorada ou o namorado não estão ali para roubar lugar de ninguém, e sim para acrescentar, pode trazer a sensação de que as coisas estão se ajeitando internamente. Cada um tem o seu papel, e juntos poderão formar, sim, uma nova família. Pai e mãe são insubstituíveis e não correm risco algum. Estas figuras servirão para fazer com que os pais estejam mais felizes e podem, muitas vezes, servir de outros modelos para a criação dos nossos filhos.

Tudo está intimamente ligado a quanto saberemos fazer escolhas saudáveis. Incluir alguém novo sem preparo, atropelar o processo de aceitação, abandonar os filhos com a desculpa de que está cuidando da sua tão esperada felicidade, trocar de namorados como a troca de estações, não. Mas aí cada um tem a dor e a loucura de ser o que é, não é mesmo? E não vai ser a nova namorada ou o novo namorado que trarão este “novo” comportamento de pai ou mãe. Muitas verdades se mostrarão aqui. Pai que não era muito pai e que dá uma sumida para curtir a vida, que não pega em final de semana que é seu, na verdade, está apenas sendo o pai que sempre foi. Mãe que deixa os filhos num feriado com a empregada, sem avisar ao pai, e vai viajar com namorado “escondida”, está provavelmente mantendo o seu mesmo padrão de mãe que sempre existiu. Eles serão apenas desculpas para um comportamento já conhecido.

Sentir um incômodo e certo ciúme é muito normal também. Até porque os filhos voltam excitadíssimos com a novidade! E como é a namorada do papai? Vai ter a fase dos elogios e vai parecer que do lado de lá tudo é o máximo. E tomara que seja. Às vezes é um empurrão para que sigamos em frente também. Mil vezes um ex feliz do que um ex enchendo nosso saco. Mil vezes o entregar as crianças querendo um tempo para si, para namorar um pouco, do que alimentar a dor de que eles foram para o lugar perfeito, para um casal “perfeito”, e eu aqui.

Porque, depois de um divórcio, sabemos que não existe perfeição nenhuma. Vale lembrar e fazer uso do conhecimento que temos do ex e de tudo que não deu certo e não servia mais para a gente. Namorados podem ir e vir. E se ficarem, os filhos terão os pais para garantirem que estarão sendo bem cuidados também por eles. E se dói muito, além da conta, a busca de cura deve ser internamente trabalhada. Um novo amor cura, sim, antigas feridas. Mas um amor próprio em dia, faz milagres.

                                                                                               By, Manual da separação

                   

A vida continua

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 16: A VIDA CONTINUA

Quando nos confrontamos com os primeiros momentos em que ficaremos sozinhas, no início pode ser meio aterrorizante. Mas, no desenrolar de todo o processo já vivido, a cada adversidade superada, aprenderemos a estar em paz com a nossa própria companhia e assim, estes momentos vão sendo cada vez mais apreciados. Valorizar os colos recebidos, a possibilidade de um recomeço em outro lugar – ou no mesmo, numa nova releitura de espaços-, estar em dia com a nossa auto estima e acreditando no nosso potencial de recuperação, isentas de culpas e maiores na aceitação, tudo tende a amenizar.

Assim, chega um momento, e chega mesmo, que nos damos conta que passaram 24 horas e nem lembramos de nada que nos associasse à dor, culpa, remorso ou simplesmente à figura do/a ex. Entramos no ritmo da vida, assistimos a um filme, lemos um livro, uma conversa amena e, ops! Não é que conseguimos nos desligar mesmo? São primeiros momentos que vão surgindo cada vez com maior frequência e que irão espaçando as dores, os medos ou qualquer pensamento ruim.

E chega o dia também que dentro de um momento tão bom com os nossos filhos nem lembramos de outra configuração familiar. Como se o presente vencesse o passado em intensidade. Estes momentos de respiro vão aparecendo mais seguido, aumentando nosso potencial de voltar a sonhar. Passamos a fazer novos planos e a nos imaginar fazendo algo que antes nem pensávamos: um curso, uma experiência em algo novo, um coração preenchido novamente da gente e até com sinais de espaço para mais alguém.

Se estamos recheadas de nós mesmas, se buscamos pequenos momentos de prazer, vamos nos transformando novamente. Se saímos machucadas ao final de um casamento, saímos maiores também. E neste momento do voltar a viver mais, apreciando pequenas coisas, vamos ficando maiores. E sabe quem percebe primeiramente este agigantamento? Nossos filhos.

Chega a hora que damos tchau para eles sem dor; que ficamos sozinhas numa noite de sábado, abrimos um vinho e vamos comer felizes na frente da tv. Que não vemos o tempo passar ao lado de uma boa conversa com uma amiga. Que nos sentimos acolhidas pela nossa família de origem e nos damos conta que estamos mais felizes e mais nós mesmas dentro do nosso habitat. E um dia, sem mais nem menos, nos apaixonamos novamente. Lembramos que antes de uma esposa sofrida, de uma mãe culpada, ainda somos mulheres. Com o diferencial absoluto de termos em nós uma história a mais para contar. Uma experiência vivida que nos ensinou muita coisa. Fazer novas escolhas, por exemplo, é uma chance de nos reescrevermos e recomeçarmos (por fora e por dentro).

                                                                                               By, Manual da separação

O que fazer com a Raiva

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 15: O QUE FAZER COM A RAIVA

By Manual da Separação

A este altura dos passos sabemos o mal que a raiva provoca em todo o sistema familiar, o quanto dificulta a relação entre os pais e que dela os desdobramentos são sempre prejudiciais. Também sabemos que sentimentos originados de rupturas, como a raiva, fazem parte do contexto. Vindos de finais de expectativas de projetos de vida, de mágoas acumuladas, de fatos graves que tenham ocorrido e que provocam, inevitavelmente, desconforto na presença do outro e necessidade genuína de mostrar esta dor, enfrentar o outro e conflitar.  Muitas vezes, dando a sensação de que investir no conflito seria a melhor forma de dar conta de algo tão ruim.  

Se olharmos para estes sentimentos como algo esperado, normal para o processo, estaremos nos acolhendo e sabendo que com o devido tempo de cura, tudo irá se acalmar. O problema é quando a raiva ultrapassa o razoável: quando em detrimento dela, deixamos de proteger nossos filhos. Quando passa do ponto que define o que é nosso do que é deles. 

Independente do desfecho de cada relação, certamente os filhos não têm absolutamente nada a ver com isso. Assim, em casos em que a raiva esta desmedida, comprometendo o vinculo dos filhos com o outro, respingando dor em quem não deve carregar, precisaremos olhar com cuidado para ver se não há indicio de alienação parental ou, numa dose menor de sentir/agir, o quanto a busca por uma ajuda técnica poderá ajudar a ultrapassar este ponto de dor, facilitando a sua compreensão e a análise de todo o contexto do que a provoca. 

A raiva é um grande impeditivo para se fazer uma virada. Ela faz com que a gente se aprisione ao passado. Faz com que as pessoas não percebam nem as coisas boas que podem estar acontecendo ao redor delas mesmas. É uma prisão perigosa e que forma raízes profundas. 

É por ela que brigas judiciais são mantidas de forma interminável, por ela que identificamos impeditivos para fechamento de acordos, jogos de trapaças, investimento num ódio familiar para todo o sempre. E nisso, nesse tipo de relação comprometida não tem final feliz. As dores serão perpetuadas nos filhos e netos. E mais adiante, lá no finalzinho da vida, qual foi o ganho mesmo? 

Identificando este sentimento, nós o normalizamos, aprendendo a identificar a origem e a forma como atua e aí temos a possibilidade de domínio. Cabe a nós definirmos quem domina quem. Evitar revides, fugir de algumas armadilhas fazem parte de um planejamento de superação e proteção a uma relação que inevitavelmente se perpetuará no tempo. Se é inevitável, podemos viver melhor ou pior com ela. A decisão é nossa. 

Efeitos de uma separação nos filhos

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 14: EFEITOS DE UMA SEPARAÇÃO NOS FILHOS

By Manual da Separação

Os efeitos decorrentes deste processo são peculiares de cada criança, de cada família. Alguns são comuns como medo e ansiedade perante um futuro incerto que estarão vivenciando. O processo de separação pode potencializar, intensificar reações nos filhos nas diferentes fases de seu desenvolvimento. Sem, necessariamente, ser a causa exclusiva delas. 

Certos comportamentos podem ser originados pela separação, mas também podem ser típicos da fase de desenvolvimento. Saber diferenciar uma situação da outra pode ajudar muito, principalmente quando abordamos a culpa. Cuidar com o que vem de um ou outro fato gerador colabora com o tanto que poderemos ajudar e quanto poderemos não nos responsabilizar. Faz uma tremenda diferença. 

Pais, imersos nas suas dores e sentimentos, cometem certa confusão ao observarem uma reação característica da faixa etária do seu filho como um reflexo direto da separação. Mordidas, xixi na cama, enfrentamentos, comportamento mais silencioso no adolescente podem ser facilmente interpretados como reações provenientes de uma separação quando, na verdade (e simplesmente), são características da idade vivida. Tranquiliza pensar que os mesmos comportamentos ocorreriam se estes mesmos filhos estivessem inseridos dentro de uma família que não viesse a passar por um processo de separação. 

A dor advinda de uma separação é imensurável, variando de ser para ser, o que dificulta quantificar o sentido por cada um e seu alcance interno. Para algumas crianças, principalmente em divórcios mal direcionados, é sentida na mesma intensidade de uma morte. O quanto os filhos são envolvidos no processo, na isenção de culpa e na preservação dos mesmos, influencia nesta quantificação. 

Hoje, nos deparamos com estudos que comprovam que os efeitos mais danosos de uma separação vem do período pré divórcio, da vivência extrema do conflito, das dores e enfrentamento dos pais. Muitas vezes, o próprio divórcio vem como uma solução para encerrar tempos difíceis, desmistificando a idéia de que, pelo filhos é melhor manter um casamento disfuncional.  

O ponto estrutural sempre estará na educação que damos, na formação em que investimos e acreditamos como pais. Através dela eles terão estrutura para todo e qualquer tipo de enfrentamento real, seja uma perda, uma morte, uma separação, seja uma fase mais turbulenta. Coisa que, inevitavelmente, a vida trará.  

Os pais devem estar sempre atentos aos sinais apresentados, ofertar sem limite muita 

compreensão, muito colo e carinho. Ainda, crianças respondem rápido a tratamentos psicológicos, que muitas vezes, se necessários, são um investimento providencial para o momento. Um empurrão para que a aceitação e ajustes internos venham a ocorrer de forma salutar.  

No fim das contas, os filhos só precisam de pais comprometidos com o bem estar delas e para isso, não precisam estarem juntos podem, mesmo que separados, se empenhar neste fim comum. 

(No vídeo da semana abordaremos os reflexos de uma separação específicos por faixa etária!) 

Reflexos Patrimoniais

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 13: REFLEXOS PATRIMONIAIS

By Manual da Separação

Uma questão muitas vezes determinante e preocupante é a divisão patrimonial e seus desdobramentos. Como se divide? Quem fica com o que? Como se fixam os alimentos? Como funciona a guarda dos filhos?

O primeiro passo efetivo é procurar um advogado especialista em famílias. A existência de filhos torna a via judicial obrigatória, ainda que seja de forma consensual. É preciso buscar documentos que comprovem o casamento (ou união estável), o regime de bens existentes entre as partes e eventuais bens que estejam em nome de um ou de ambos.

Outra dica que ajuda muito neste momento e nesta reorganização patrimonial é realizar um levantamento dos custos diretos e indiretos. Diretos são aqueles que envolvem os filhos, como escola, plano de saúde, atividades extras. Indiretos são aqueles que envolvem a moradia e o sustento do próprio lar (condomínio, aluguel, luz, alimentos…). A partir dai, vendo a forma de contribuição de cada um dos pais, pode se pensar em valores negociáveis que levarão a uma idéia de pensão alimentícia.

O regime (e a eventual existência de um pacto pré-nupcial) determinará a forma que se dará a divisão dos bens. Um bom advogado saberá orientar, validando o interesse das partes tendo a Lei como balizadora destas questões. Ela traz limitações legais que direcionam as questões patrimoniais. As demais, como o funcionamento da guarda e convivência podem ser estabelecidas de acordo com a vontade e funcionamento de cada família. Quem mais sabe do que é melhor para seus filhos do que os próprios pais? É esta autonomia de vontade que os acordos consensuais possibilitam.

Apesar do tema ser patrimonial, se buscam soluções que sejam boas para toda a família. Um bom direcionamento, um bom acordo, é garantia sim, de melhores “finais”.

Ex é para sempre

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 12: EX É PARA SEMPRE

By Manual da Separação

A afirmativa, embora óbvia, nem sempre nos chega numa clara compreensão quando estamos inseridos num contexto de dor.

 O ex é para sempre, sim. Com ele dividiremos os filhos até o fim. Teremos aniversários, formaturas, eventos especiais da vida deles e possivelmente, seremos avós dos mesmos netos. Portanto, esta obviedade deve ser constantemente lembrada ao manusearmos o fim desta relação.

Sabendo que alguns conflitos poderão ocorrer e que deles surgirão alguns enfrentamentos, é necessário o uso de um filtro adulto para que se proteja minimamente esta relação parental. É o respirar antes de responder prontamente a algum insulto.
É escolher as palavras certas para que elas não produzam ofensas irremediáveis. É adotar uma postura não violenta mesmo que a vontade nos leve ao contrário. Não necessariamente pelo outro. Este talvez nem perceba, num primeiro momento, este louvável esforço. É pelos nossos filhos que tentamos fazer o nosso melhor. O uso deste filtro é uma forma de cuidado com esta relação que se dá de forma continuada: ela permanecerá ao longo do tempo e jamais se encerrará.

Outra forma de cuidado é acionarmos dentro da gente um momento de afeto, alguma lembrança boa que envolva o outro. Mesmo que tenha que se voltar lá trás, todos temos alguma. Principalmente, no histórico da vida dos nossos filhos. É este afeto lembrado que vai nos sinalizar a todo o momento que estamos lidando com o pai/mãe do nosso filho. Alguém que, mesmo inserido num momento de crise, conflito, até mesmo de raiva, tem um espaço determinante na vida dos nossos filhos.

Os conflitos familiares quando se arrastam, muitas vezes até em vias judiciais, ou anos depois em questões de repetição que não se encerram, são resultado de um fim mal administrado e alimentado de mágoas. Muitas vezes, uma das partes não consegue finalizar, se alimenta de ódio e discórdia e tem como objetivo dificultar a vida do outro/a em tudo que puder. Normalmente são pessoas que se fixam nas perdas reais, não se abrem para novas possibilidades e sacrificam os próprios filhos em nome de uma dor que é somente delas. O comportamento conflituoso mantém o vínculo. Priorizar os filhos (sempre) ajuda a romper o vínculo conjugal, abre portas internas para uma nova vida e protege esta relação para tudo que estiver ligado ao futuro.

Assim, munidas desta preservação de papéis poderemos até tirar fotos com o outro e o filho na formatura dele. Sorrir de uma lembrança conjunta, lembrar que aquele netinho parece com um ou outro, negociar questões futuras com mais legitimidade em dividir ou pedir qualquer coisa.
E quem ganha com isso? Todos. Os filhos, pela sensação de poder contar com ambos os pais num ambiente mais harmônico, e os ex, marido e esposa, companheiros, que poderão usufruir de uma sensação de liberdade ao perdoar (e se perdoar) e seguir a vida da melhor forma possível.

Hora do Recolhimento

20 PASSOS PARA O BOM DIVÓRCIO – PASSO 11: HORA DO RECOLHIMENTO

By Manual da Separação

Hoje, com frequência, confunde-se o que é publico do que é privado. A dor, o luto para a efetiva reconstrução, deve se dar numa esfera intima. Postagens com fotos se mostrando disponível, vivendo o novo amor da vida, precocemente, traduzem uma fragilidade e provavelmente, escolhas equivocadas. Mas, se assim for esta tal felicidade que precisa estar tão evidenciada, não esta no mínimo, respeitando a eventual dor do outro.

Observamos que machucados, e normalmente em tempos diferentes de reconstrução, tem sempre um que se restabelece antes e que pode, de forma desnecessária, fazer questão de mostrar esta mudança. As vezes, porque não esta bem mas precisa mostrar que está. Ou ainda, porque vinha mal ha tanto tempo, que realmente esta aliviado. O apelo midiático de vidas felizes colabora significativamente com este “precisar estar bem”: linda, magra e de bem com a vida.

Porém, sabemos que em processos de divórcio, frente às perdas e dores inevitáveis, ninguém sai soltando fogos de artifícios e desfilando na semana seguinte em escolas de samba. Sabe-se que um luto bem vivido, curado, onde se enfrentam as dores de forma verdadeira é o único caminho real para a reconstrução, para a virada de página. Quando chamamos o divórcio de crise evolutiva, é exatamente esta possibilidade de fazer uso da adversidade da vida, para irmos além, evoluirmos enquanto seres humanos e de la saírmos mais fortalecidos. Quer mais? E dando um baita exemplo para nossos filhos.

Ocorre que nem todo mundo percebe esta chance assim. Antecipando passos, perde a chance de fazer bem feito, de respeitar o tempo de reconstrução do outro e conduzir melhor o seu divórcio. Muito acordos que estão bem encaminhados trancam em dores pelo excesso de exposição de uma das partes. E ai, nos perguntamos: para quê? O desrespeito com a dor do outro pode provocar terremotos emocionais de consequências severas: comprometimento da parentalidade saudável, brigas judiciais e vínculos conjugais que não se encerram nunca.

Àquele machucado, vai fazer plantão nas redes sociais, sim. Vai fazer uma busca por informações constantes e se alimentar disso. É o que chamamos dos “buracos negros”. Estes devem ser evitados para que possamos seguir em frente. Bloquear o outro nas redes sociais, pedir para aquela amiga bem informada que não traga noticias do ex, é uma forma protetiva de evitar estes buracos.

Recolhe, acolhe, absorve, aprende e cresce para começar tudo de novo.

E lembra: a verdadeira felicidade é silenciosa e chega devagar. Há o tempo do recolhimento, o tempo de ajustes. Para dai, sim, chegar o tempo de se expor para quem quiser, onde quiser, do jeito que for. Porque chega uma hora que realmente ninguém mais tem nada a ver com a vida da gente.

 Isso se chama, de verdade, liberdade.

Um passo de cada vez.